Igreja de São Bartolomeu
NOTA ARTÍSTICA
O edifício de São Bartolomeu do Salgueiro, assume toda dimensão de uma arquitetura de contornos vernaculares, tal como tantas outras que cresceram à sombra de neste contexto de pequenos lugares e parcos recursos. Embora tenha contornos já barrocos, a sua fundação remonta ao final da Idade Média.
É uma estrutura bastante simples, com uma fachada com um portal com arco de volta perfeita e sobre ele, no eixo da fachada rasga-se uma fenestração. Adossada à fachada, do lado do Evangelho, corre a torre sineira e do relógio, acedendo-se ao seu topo por intermédio de uma escadaria exterior.
O interior é nave única e provida de coro alto. Do lado do Evangelho, abre-se sobre a nave o púlpito revestido de madeira e sem dossel.
A capela-mor, caracteristicamente despojada, tem no alçado do Evangelho a tribuna. Na parede fundeira corre um retábulo dos finais do século XIX, assumindo contornos clássicos. O mesmo modelo aplica-se aos retábulos colaterais. Acresce ainda referir, dois retábulos barrocos, de menores dimensões, colocados na nave.
Ainda do ponto de vista do equipamento, a igreja guarda alguns elementos de exceção. O primeiro destaque recai sobre um sacrário renascentista em pedra de Ançã. A peça possivelmente parte de estrutura retabular do século XVI, encontra-se policromada – embora com sinais de repintes – tem representações de cabeças de anjos, concheados, volutas e microarquitecturas de inspiração na tratadística. Apesar dos danos que apresenta, a peça, pelas suas características formais, é identificável com a escola escultórica de escola de Coimbra, podendo ser de um dos muitos discípulos ruanescos.
Destaque ainda para dois painéis do século XVI, de contornos maneiristas, alusivos a Santa Luzia e a São Bartolomeu. As duas peças, é o remanescente de um conjunto de maiores dimensões, estão muito repintados, apesar de tudo ainda conseguem mostrar ainda laivos da qualidade que outrora tiveram e a qualidade oficinal pictórica que a região detinha.
Séc: XVI/XVII/XVIII
Autor: N/s
NOTA Histórica
A primeira notícia documental que se conhece (e desconhecida até este momento), desta igreja, data do século XVI e surge por intermédio do título da São Bartolomeu, da Covilhã 8no século XVIII esta igreja continua a pertencer ao arciprestado da Covilhã), enquanto igreja arrolada nos bens da Ordem de Cristo, que tinha como anexa, precisamente a igreja de São Bartolomeu do Salgueiro – Tº da igrª de Sam Bertholameu da villa de Couilham e sua anexa sam bertholameu do lugar do salgrº comenda da ordem de xpo, de 1563-1564.
Neste título, para além da referência que existe à milícia de Nosso Senhor Jesus Cristo, também ficamos a saber que o seu comendador é Manuel Quaresma (desconhecemos se trata de Manuel Quaresma Barreto, nome que surge no Catalogo dos Cavaleiros da Ordem de Christo e referido que foi feito cavaleiro da Ordem 1551) e o vigário da igreja é Francisco Brochado. Destas igrejas o comendador leva dous terços que leua dos dizimos com promicias propios, guado lam Lº vinho e outras meunças en cada hu Anno tiradas as despesas neçessarias ordinarias cóforme ao regimento. Em contrapartida, conforme enunciam os estatutos e as visitações, cabe ao comendador zelar pela capela-mor, sendo sobre si que recai todas as despesas de conservação e manutenção.
Possivelmente, é dentro deste contexto que surge o sacrário renascentista, em pedra de Ançã e que se encontra hoje nos anexos da igreja.
Contudo, na segunda metade do século XVII, desenrolou-se uma campanha de obras, isto atendendo à data de 1677 que se encontra cronografada na umbreira da porta da fachada lateral do lado da Epístola. Cerca de meio século depois, encontra-se também epigrafa, embora na fachada oposta, a data de 1721, possivelmente corresponde, não há construção, mas sim, a melhorias feitas na estrutura.
As memórias paroquiais de 1758, para além das habituais respostas, refere que na data em quatão, os comendadores são os Condes da Ericeira e que o pároco continua, tal como acontecia desde do século XVI, a ser da igreja da villa da covillam. Na descrição é dito que a sagrada imagem como o sacrario do santissimo sacramento esta no Altar mor (possivelmente, o auto refere-se ao sacrario renascentista que anteriormente aludimos), mais diz o texto referindo não ter naves e a existência de dois altares laterais.
No século XX, tal como se pode observar pelas datas presentes no portal (1903/1997), são feitas melhorias no edifício.
Referências Bibliográficas:
FARIA, António Machado de, “Cavaleiros da Ordem de Cristo no Século XVI”, Arqueologia e História, volume VI, Lisboa, 1955
SILVA, Joaquim Candeias, O Concelho do Fundão através das Memórias Paroquiais de 1758, Fundão, 1993
SILVA, João Belmiro Pinto da, VEIGA, António, Fundão – Ecos de um passado milenar..., Héstia Editores, Fundão, 2005.
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=9277
Referências Documentais:
ANTT, Memórias paroquiais, vol. 33, nº 23, p. 157 a 160
BN, COD. 413 -Titulo das comendas dos Mestrados das ordens de Christo e d ́auis que ha neste b[is]pado da guarda com aualiaçam das Remdas de cada hu[m]a delas dos Annos de 1563 e de 1564