Igreja Matriz de São Bento
NOTA ARTÍSTICA
Apesar da fachada principal ostentar a data de 1559, na realidade, deste período pouco resta. Porque, o edifício é fruto de múltiplas intervenções, sobretudo do século XIX. À fachada justapõe-se uma robusta torre de planta quadrangular, construída em 1880, com alçados exteriores em cantaria, e rematada por ameias e merlões e cujo interior alberga o batistério.
As fachadas laterais são rebocadas e pintadas; nelas abrem-se o portal e janelas com molduras simples retangulares em cantaria.
O alçado interior esquerdo da nave é rasgado por uma arcaria de quatro arcos perfeitos assentes sobre colunas, que permite acesso a um espaço correspondente a uma nave lateral que encaminha para a capela de São Fiel; esta alberga as relíquias do Santo, trasladadas para esta igreja em 1858 e corresponde a uma ampliação que ocorreu durante a década de 50 do século XX.
No interior da nave destacam-se os retábulos do século XIX dedicados aos Sagrados Corações, Calvário, Santo António, Nossa Senhora de Fátima e Santa Isabel. O retábulo-mor, da mesma estética, é dedicado a São Bento.
Os diferentes espaços exibem cobertura em teto de madeira com perfil de segmento de arco a pleno centro.
No que corresponde à imaginária, entre os diversos elementos que subsistem neste espaço, a par da escultura do século XIX e XX de menor qualidade, sobressai a escultura dedicada a Nossa Senhora do Carmo (sécs. XVII-XVIIII). A imagem, refletindo o gosto tridentino, também um tratamento proporcional de boa qualidade, assim como o tratamento das carnaduras revela uma mão de qualidade, apesar da peça denotar alguns repintes.
Outra escultura de qualidade é a peça de invocação de São Domingo de Gusmão. Escultura de madeira, datada do século XVIIII, proveniente de uma oficina de contornos regionais. De corpo ligeiramente projetado para trás, a escultura revela um tratamento formal denotando algumas dificuldades na disposição das proporções, embora o entalhe aplicado ao panejamento revela alguma qualidade na pormenorização. Do final do século XVIII ou da centúria seguinte é a escultura de Santo António e o Menino Jesus. Esta escultura, apesar da sua qualidade, não deixa de ser uma obra de reveladora de uma escola regional.
Data: XVI/XIX/XX
Autor: S/N
NOTA HISTÓRICA
Pouco resta do edifício do século XVI. Os únicos vestígios dessa antiguidade encontram-se na fachada principal, onde se pode ler as inscrições «hoc opvs petrvs fecit ano domini 1559» e «benedito».
Esta igreja da Ordem de Cristo, conforme revela o Tombo de São Vicente da Beira (1716), também faz parte do património da Ordem da Avis. Contudo, tal como acontece com as igrejas das localidades de Tinalhas, Sobral do Campo, Ninho do Açor, Freixial, Povoa de Rio de Moinhos, têm duas jurisdições: Ordem de Avis e Ordem de Cristo, tendo repartidas todas as despesas inerentes ao edifício: E isto tudo se paga das duas Comendas ao meyo.
No tombo ainda é dito que ” (…) esta Igreja do lugar dos Louricaes termo da villa de Sam Vicente da Beyra tem na capella mayor hua (sic) Retabollo antego muito bem feito e dourado com a Imagem de Sam Bento no meyo que he orago da dita Igreja a qual tem hum Sacrario e tem a dita capella quatro varas de Altura de alto a baixo e de compermento sinco varas e huma cerea medida pella banda de dentro tudo”.
Mais refere que a “(…) dita Igreja tem hum cura que hoje he o Padre Antonio Fernandes Barroso a quem pagam os comendadores de Aviz e de Christo ao meyo em cada hum anno sete mil e duzentos reis em dinheiro e vinte alqueires de trigo e sete alqueires e meyo de senteyo cinco almudes de vinho e sera para as missas conventuaes de todo hum anno, e hum aratel de incensso azeite para huma alampada da capella mor e para a fabrica tres mil reus, hum arratel de sabam para os corporaes e tudo isto se paga das duas Comendas cada huma a metade”(…).
O tombo em questão ainda permite saber os Bens da sacristia, desse levantamento encontramos: ” Três capas de asperges (vermelha, branca e roxa), seis casulas detodas as cores, 7 alvas, 2 toalhas de altar-mor, 2 toalhas de comunhão; 1 cálice, 1 cruz de prata, 1 turíbulo de prata, 1 naveta de estanho (a naveta e turíbulo «he do Povo e não da fabrica»), 2 frontais (branco e roco), 4 castiçais de metal, 2 missais (um novo e outro velho), 1 par de galhetas de estanho, 2 panos de estante, 1 sobrepeliz, 2 cadernos de missa de Requiem.
Referências Bibliográficas:
GONÇALVES, Iria (coord.), Tombos da Ordem de Cristo, Comendas da Beira Interior Sul (1505), vol. V, Lisboa: Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2009.
HORMIGO, José, Visitações da Ordem de Cristo em 1505 e 1537. Amadora: 1981
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=12827
Referências Documentais:
ANTT, Ordem de Avis, Tombo das comendas 85
Bn, COD. 413 -Titulo das comendas dos Mestrados das ordens de Christo e d ́auis que ha neste b[is]pado da guarda com aualiaçam das Remdas de cada hu[m]a delas dos Annos de 1563 e de 1564